[:pt]2016 foi um ano como muitos desafios, vitórias e também missões 🙂
O ano passado foi dedicado a Africa, mas uma Africa diferente das outras. Ilha do Príncipe, em São Tomé e Príncipe.
A ilha do Príncipe é um lugar muito especial.
Primeiro porque tem registadas cerca de 7000 pessoas e quase 4000 são crianças. Ideal para semear sonhos para futuras gerações.
Segundo porque tem um governo regional que funciona com relativa independência de São Tomé.
Terceiro porque qualquer semente que se perca, por lapso, rapidamente se transforma em planta e dará fruto. Quase como um laboratório a céu aberto.
O clima é propício, e por isso é uma ilha com uma incrível bio diversidade, característica por ter várias espécies endémicas.
As tartarugas do Príncipe, também elas são grandes, algumas chegam a atingir os 2 metros. E também por serem tão especiais, são consideradas como um dos melhores “petiscos” para a população local. Mas o que muitas pessoas não se lembra, é mesmo do facto de demorarem cerca de 25 anos a desovarem e por isso, precisarem de um ambiente seguro para dar continuidade a futuras gerações.
Um dos maiores investidores da ilha (arrisco-me a dizer que um dos únicos) viu-se obrigado a reduzir grande parte dos seus projetos sociais e até a reformular seus objetivos a longo prazo e por isso mesmo, teve que recorrer a um processo de despedimento coletivo. Empregador de cerca de 700 colaboradores, despediu cerca de 200 (que na realidade Africana, impacta na sobrevivência económica de mais de mil pessoas da ilha).
Por esta razão, a empresa HBD decidiu contratar uma psicóloga experiente em intervenção em crise, de modo a apoiar a gestão emocional desta grande mudança.
Como tenho vindo a defender, se há coisa que não nos ensinam na escola é mesmo a lidar com mudanças inesperadas, aquelas que veem sem avisar.
Por esta razão, defini um programa de gestão emocional que apoiaria este processo de despedimento coletivo.
Sensibilizei a comunidade para o que nos pode acontecer quando sofremos uma mudança inesperada nas nossas vidas, que tipo de respostas podemos dar e quais as que devemos estar atentos por serem um sinal de alerta de que algo não está bem.
Apoiei individualmente cerca de 50 pessoas (expatriados e locais) e ainda mais de 100 pessoas em grupo.
Muitos casos de ansiedade, de reações de stress, insónias, ataques de pânico, zanga ou tristeza, tiveram oportunidade de receber o apoio que precisavam.
Aprendi muitas coisas nesta missão.
Que existem algumas empresas que se preocupam com a saúde emocional dos seus colaboradores e se esforçam por promover estes serviços. Mas a que mais me emocionou, foi sem dúvida, o sentido de propósito que envolvia determinados grupos de colaboradores, o grupo dos guardas marinhos de tartarugas.
Os Guardas das tartarugas são os responsáveis por proteger esta espécie nas praias do Príncipe. E mesmo tendo perdido o seu trabalho ou in come económico para sustentar as suas famílias, a sua maior preocupação não era essa.
Vários me perguntavam “mas…e agora, quem vai proteger as tartarugas e garantir que os nossos filhos tenham também o privilégio de conhecer esta incrível e bonita espécie?”
E nós, quando foi a última vez que pensamos em proteger o mundo para os nossos filhos? para as futuras gerações?
Mais uma grande aprendizagem que uma situação de crise me trouxe.[:]